- Australia police arrest 554 in domestic violence crackdown
- South Korea, Britain host AI summit with safety top of agenda
- New president Lai vows to defend Taiwan's democracy
- Forever fad: Rubik says his cube 'reminds us why we have hands'
- Trump eyes witness stand as trial draws to a close
- Ryanair annual profit jumps on higher demand, fares
- High-priced Cummins, Starc face off as IPL enters playoffs
- Iran media says President Raisi died in helicopter crash
- Dominican Republic President Abinader re-elected to 2nd term
- New Taiwan president Lai hails 'glorious' democracy
- New Caledonia separatists defy French efforts to unblock roads
- Timberwolves knock out defending champion Nuggets, Pacers oust Knicks
- Trump biopic hits Cannes Film Festival
- Iran President Raisi's helicopter found, 'no sign of life'
- Three talking points ahead of 2024 French Open
- 'Haikyu!!': Comic heroes fuel Japan Olympic volleyball manga mania
- Timberwolves rally to knock defending champion Nuggets out of NBA playoffs
- London court set to rule on Julian Assange extradition
- Business and Bollywood votes in India election
- Pope calls anti-migrant attitudes at US border 'madness'
- Mexico aims to be big economic winner from US-China tensions
- Uncertain future for thousands after deadly Brazil floods
- Schauffele makes the putt of his life for first major win
- Wirtz returns to help unbeaten Leverkusen chase history
- Search for Iran's President Raisi after helicopter goes missing
- DeChambeau's powerful putting has him excited for US Open
- Taiwan to swear in new president as China pressure grows
- Atalanta can end 61-year wait for trophy in Europa League final
- Schauffele birdies final hole to capture PGA for first major win
- Guardiola casts doubt over long-term Man City future
- Hollywood icons Costner and Demi Moore make Cannes comeback
- Pacers shoot down Knicks to reach NBA Eastern Conference finals
- Schauffele birdies final hole, captures first major at PGA Championship
- McLaughlin powers to Indy 500 pole in all-Penske front row
- Monaco footballer tapes over LGBTQ badge
- Korda wins sixth LPGA title of year with win at Liberty National
- Pacers put on shooting show to down Knicks, reach NBA Eastern Conference finals
- US envoy touts 'potential' of Israel-Saudi deal in Netanyahu talks
- Dominicans vote for president in poll overshadowed by Haiti crisis
- Brest secure Champions League qualification, PSG win without Mbappe
- Mbappe absent as PSG win final Ligue 1 game
- Still exhausted after arrest, Scheffler closes with 64 at PGA
- Brest secure historic Champions League qualification
- France's Macron calls fresh emergency on New Caledonia unrest
- Taiwan swears in new president as China pressure grows
- Schauffele leads as dramatic PGA back-nine battle begins
- Biden faces silent Gaza protest at Martin Luther King Jr's college
- Ten Hag says Man Utd 'must do everything' to win FA Cup after Premier League flop
- Cannes film follows Egypt feminists on brink of adulthood
- Pep Guardiola: Man City manager addicted to winning
Escanear a íris em troca de criptomoedas em uma Argentina em crise econômica
Em um centro comercial de Buenos Aires, Juan Sosa para em frente a uma "esfera" da empresa Worldcoin para escanear a íris de seus olhos em troca de criptomoedas, como já fizeram centenas de milhares de argentinos atingidos pela inflação e pelo ajuste fiscal.
"Faço isso porque não tenho um peso, não há outro motivo", diz Sosa, um professor de artes marciais de 64 anos. "Não queria fazer isso, mas por causa da minha idade ninguém me dá trabalho, e preciso de dinheiro".
Ele acaba de parar alguns segundos em frente a uma esfera prateada com câmera acoplada que parece ter sido tirada de um antigo filme de ficção científica: um brilho circular, e logo receberá em sua carteira digital uma transferência de tokens equivalente (naquele dia) a cerca de 80 dólares.
Perfis como o de Sosa se espalham nos 250 postos da Worldcoin instalados em todo o país. Nos últimos meses, houve filas em vários stands de Buenos Aires, atendidas por jovens operadores equipados com uma ou duas "esferas", os dispositivos que escaneiam dados biométricos.
A Worldcoin, cofundada em 2023 pelo criador da OpenAi, Sam Altman, é uma criptomoeda dotada de um sistema de verificação de identidade a partir da íris. Uma vez que o usuário faz o escaneamento e completa a validação de sua identidade, pode dispor dos lucros em criptomoedas que o aplicativo concede.
- Investigações "normais" -
A empresa é cuidadosamente vigiada pelos reguladores em vários países. Quênia, Espanha e depois Portugal ordenaram sucessivamente à Worldcoin suspender a coleta de dados biométricos até completar suas investigações.
Mas a Worldcoin se impõe na Argentina, que sofreu em 2023 uma inflação de 211% e está passando pelo severo ajuste do presidente ultraliberal Javier Milei.
Até o início de 2024, pelo menos 500.000 argentinos haviam escaneado sua íris, ou seja, mais de 15% dos 3 milhões de participantes em todo o mundo, segundo os últimos dados publicados pela companhia.
"Há pessoas que estão muito mal, com um salário que não cabe no mês, por isso fazem essas coisas", disse Miriam Marrero, caixa de supermercado de 41 anos, enquanto olha para a "esfera" que acaba de escaneá-la. Também fiz isso por dinheiro: para ajudar um amigo a construir sua casa.
Para a Worldcoin, não se trata de uma "transação" de íris por dinheiro, mas sim dos primeiros passos para a construção da "maior rede financeira e de identificação do mundo". Uma espécie de passaporte digital que funciona graças ao blockchain, permitindo aos usuários demonstrar sua identidade online sem compartilhar outros dados pessoais.
A empresa assegura que os dados estão protegidos com "padrões de segurança altamente avançados" e que a "Worldcoin Foundation e seu colaborador Tools for Humanity nunca venderam, nem vendem nem venderão nenhum dado pessoal, incluindo os biométricos".
Tiago Sada, chefe de produto da "Tools for Humanity", a empresa por trás da Worldcoin, também assegurou à AFP: "Sempre tivemos e teremos um diálogo aberto com os reguladores sobre aspectos financeiros e de privacidade".
Também afirmou que as investigações em diversos países "para verificar se os compromissos estão sendo cumpridos são perfeitamente normais", como a que a Agência de Acesso à Informação Pública (AAIP) realiza na Argentina.
- A "magia" da esfera -
No entanto, um dado biométrico como a íris, único em cada ser humano, é "ultrassensível", alerta Natalia Zuazo, especialista em políticas tecnológicas e diretora da empresa de consultoria digital Salto Agencia.
"Eu acredito que as pessoas não entendam totalmente as implicações que podem ter; simplesmente fazem isso por necessidade. E também ainda há uma questão muito otimista e uma magia gerada pela esfera, uma curiosidade".
Ulises Herrera, um estudante de 20 anos, admite que não haveria feito isso sem o incentivo econômico: "A íris é algo que não se pode mudar e não sei quem tem esses dados, isso é o que me dá medo", comenta.
Outros não pensam duas vezes: "Há anos que dou meus dados pessoais a um monte de empresa, pelo menos esses vão me dar dinheiro", brinca Federico Mastronardi, um músico de 33 anos que acaba de marcar um horário para escanear sua íris em Buenos Aires.
Zuazo caracteriza a Worldcoin como uma "tentativa messiânica de identidade digital" e aponta: "Se você olhar o mapa, obviamente vão aos países em crise, aos países mais pobres, porque as pessoas estão mais predispostas a fazer essas trocas".
Miriam Marrero, por sua vez, ri: "Não tenho medo de que amanhã façam outra versão de mim, desde que façam melhorada".
F.Müller--BTB